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Racionamento de água completa dois anos em Campina Grande

Além de Campina, outras 18 cidades enfrentam racionamento desde 2014.
Açude que abastece cidades está com apenas 5,3% da capacidade total.

O racionamento de água para a população de Campina Grande e outras 18 cidades do Agreste paraibano completa dois anos nesta terça-feira (6). O açude Epitácio Pessoa, conhecido como açude de Boqueirão, no Cariri da Paraíba, que abastece essas cidades, está com apenas 5,8% da capacidade total de armazenamento.

Nestes dois anos, o racionamento mudou de modelo quatro vezes. Sem novos limites de exploração estabelecidos em números pela Agência Nacional das Águas (ANA), a população vai poder usar a água enquanto ela for própria para o consumo, mas os órgãos não sabem até quando isso vai ser possível e esperam por chuvas ou a Transposição das Águas do Rio São Francisco.

“Enquanto a ANA determinava os percentuais, a gente sabia em média até quando poderia usar. Mas agora, o abastecimento vai depender da potabilidade da água e isso não temos como precisar”, disse o gerente da Cagepa, Ronaldo Menezes.

No dia em que o racionamento de água começou, em 6 de dezembro de 2014, o açude, que tem capacidade para 411.686.287 metros cúbicos de água, estava com pouco mais de 98,557 milhões, que correspondia a 23,9%. Na segunda-feira (5), o açude estava com 21,707 milhões, ou seja 5,3%. Os dados foram divulgados pela Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa).

Mesmo com racionamento, em dois anos o açude perdeu 76,850 milhões de metros cúbicos de água. A queda se deu pelo consumo da população e pelo processo natural de evaporação. Segundo a Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba (Cagepa), este é o pior nível da história, desde que a cidade passou a ser abastecida pelo açude, na década de 1950. Antes, a maior crise havia ocorrido em 1999, quando o açude chegou a 14,5%.

Por causa do baixo nível de água no açude, a Cagepa está tendo que usar um sistema de captação flutuante para retirar a água da superfície. Essa medida foi necessária, pois o volume baixou tanto que o sistema de captação por meio de gravidade perdeu a eficácia.

O baixo nível também diminuiu a qualidade da água e a presença de cianobactérias e toxinas liberadas por elas fez com que a Cagepa aumentasse o tratamento. “A água que a gente tinha há dois anos, há cinco anos, não é a mesma de hoje. O volume foi baixando e a gente tem adaptado o tratamento”, explicou o gerente da Cagepa, Ronaldo Menezes.

Boqueirão (Foto: Reprodução/ TV Paraíba)
Cagepa usa sistema de capaturação flutuante para retirar água (Foto: Reprodução/ TV Paraíba)

Racionamento foi se adequando
O plano de racionamento da água do açude de Boqueirão foi divulgado em novembro de 2014, depois que o açude chegou a 100 milhões de metros cúbicos. A Cagepa passou a retirar água, de acordo com o que a ANA autorizava, por meio de resoluções.

Em 6 de dezembro de 2014 a Cagepa poderia retirar uma média mensal de 1.352 litros de água por segundo e a população ficava sem água durante 36 horas por semana. Esse racionamento seguiu até 5 de junho de 2015, quando o nível chegou 76,121 a milhões de metros cúbicos de água, que corresponde 18,9%.

Na segunda fase do racionamento, que começou em 6 de junho, a ANA diminuiu a autorização de vazão para uma média mensal de 1.084 litros de água por segundo. A população ficava 60 horas por semana sem água. Em 31 de outubro de 2015, quando o açude atingiu 14,2% do volume, a ANA reduziu a vazão quase pela metade e permitiu que a Cagepa retirasse uma média mensal de 650 litros de água por segundo. A partir de então a população passou a ficar sem água durante 84 horas por semana.

Já o quarto e atual modelo de racionamento adotado foi 18 de julho deste ano, quando o açude atingiu o nível de 8,2%. A vazão de retirada ainda é de 650 litros por segundo e o regime de racionamento, em Campina Grande é de 45 horas, alternado por duas zonas. Alguns bairros têm água da manhã da segunda-feira a quarta-feira e outros da madrugada da quinta-feira até a tarde do sábado. Entre a tarde do sábado e manhã da segunda-feira, nenhum local recebe água. Já em outras cidades do Agreste a população chega a ficar mais de uma semana sem recebe água.

Operários trabalham no canal que vai levar água da Transposição em Monteiro (PB) (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Operários trabalham no canal que vai levar água da Transposição em Monteiro (PB) (Foto: Katherine Coutinho / G1)

Planos para 2017
Sem certezas de boas chuvas na região e aguardando a conclusão das obras da Transposição do Rio São Francisco, a Cagepa alerta a população para continuar racionando a água. O gerente Ronaldo Menezes destacou que é preciso tomar medidas de curto e longo prazo.

“A curto prazo o que tem que se fazer é economizar o máximo de água e adotar o reuso da água. Isso faz com que a água boa seja poupada de serviços mais pesados. Já a longo prazo, como sabemos que essa é uma fase de seca, é preciso que os governos tomem medidas para aproveitar melhor a água da chuva”, explica ele.

Ainda segundo Ronaldo Menezes, na última reunião com a Cagepa, Aesa, ANA, Ministério Público da Paraíba e Ministério da Integração, a previsão de chegada das águas do Rio São Francisco na cidade de Monteiro, no Cariri paraibano, era para abril de 2017. Entretando, a água precisa correr por outras barragens e rios até chegar ao açude de Boqueirão.

Para o presidente da Aesa, João Fernandes, a situação é bem crítica, mas as chuvas do início do ano podem melhorar a situação e aumentar a oferta de água, enquanto as obras da Tranposição do Rio São Francisco não são concluídas. “A gente sabe que todo ano chove, mas não sabe o quanto vai chover. Geralmente, a partir de janeiro, ou até antes, essa região recebe chuvas e isso pode aliviar. Mas os cuidados precisam continuar, com as ações dos órgão e a diminuição de perdas, que é o que a Cagepa já tem feito”, disse ele.

Fonte: G1

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