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Biodegradação Anaeróbia de Gelatina e Resíduos Sólidos de Curtumes

Resumo

O aumento da população causa maior demanda pelo consumo de diversos produtos, entre eles a carne animal. A industrialização possibilita o atendimento das diferentes demandas da população, no entanto, grandes quantidades de resíduos (sólidos e líquidos) são geradas, criando um desafio ambiental. Os resíduos sólidos da indústria de carnes são ricos em proteínas (colágeno), com grande potencial de reaproveitamento por meio de outros processos industriais como a transformação de peles em couro e gelatina, que também produzem seus resíduos. Nesse contexto, a digestão anaeróbia apresenta-se como uma alternativa de tratamento, visto que é capaz de atender não apenas o tratamento e destinação de resíduos sólidos, como também a dependência de combustíveis fósseis pela geração de energia renovável. No presente trabalho, foi avaliada a degradação anaeróbia de gelatina em conjunto com um resíduo sólido de curtume – lodo de uma estação de tratamento de efluentes de um curtume, em ensaios controlados de misturas desses resíduos. Para a avaliação da eficácia, a variação de parâmetros como volume e composição do biogás gerado, conteúdo de sólidos voláteis, demanda biológica de oxigênio, carbono orgânico total, carbono inorgânico, nitrogênio total, pH e a presença de corantes alimentícios na gelatina foram examinados antes e após o processo. Os resultados comprovaram o estabelecimento da digestão anaeróbia, pela presença de metano no biogás. No entanto, os resultados também evidenciaram uma forte inibição das etapas finais do processo, já que o conteúdo de matéria orgânica aumentou sem a devida compensação em formação gasosa. Os prováveis motivos para a inibição dos microrganismos metanogênicos, com consequente ineficiência, são as características do lodo, a baixa relação entre carbono e nitrogênio da mistura de substratos e o tempo reduzido de estudo. Os corantes alimentícios do tipo azo (Amarelo Crepúsculo FCF e Bordeaux S.) exerceram influência significativa apenas para redução de cor, em que o ensaio sem corante (SC) apresentou uma redução na resposta espectrofotométrica de 79 e 89 %, avaliados em 480 e 521 ηm, respectivamente, em comparação com 12 e 6 % demonstrados pelo ensaio com corante (CC).

Introdução

O consumo mundial de carne tem aumentado nos últimos anos, impulsionado pelo crescimento da população e aumento do consumo por pessoa. As principais contribuições são de ordem econômica e cultural, com a globalização da cadeia de alimentos, urbanização e mudança de hábitos alimentares. Dessa forma, a produção e o consumo de carnes afetam os três pilares da sustentabilidade: a economia, a sociedade e o meio ambiente.

A indústria da carne gera grandes quantidades de produtos secundários, tais como, sangue, ossos, aparas de carne, tecidos gordurosos, pele, entre outros. Embora parte destes possa ser aplicada diretamente como alimento, de acordo com tradições locais, a maioria acrescenta custos para ser tratada e disposta corretamente. Esses custos podem ser amenizados pelo aproveitamento desses subprodutos, transformando-os em produtos de maior valor agregado.

Esse é o caso de peles, subprodutos de frigoríficos, que não são utilizados diretamente na alimentação e ricas em colágeno, principal matéria-prima para a produção de couro e gelatina. Entretanto, o aproveitamento de peles também é responsável pela geração de resíduos líquidos e sólidos que, por sua vez, requerem tratamento e destinação.

Em especial, há grande potencial no gerenciamento de resíduos sólidos, já que estes são frequentemente dispostos em aterros. A lei da política nacional de resíduos sólidos prevê o reconhecimento do resíduo como bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda, e promotor de cidadania (Brasil, 2010). De fato, a aplicação de tecnologia adequada no tratamento de resíduos minimiza o uso de recursos naturais e comprometimento do meio ambiente, atende a legislação ambiental e ainda tem potencial para aumentar a competitividade, já que o aumento na eficiência do uso dos recursos afeta diretamente a lucratividade.

Embora demonstre limitações com relação a custo inicial, grandes volumes associados, necessidade de purificação do biogás e sensibilidade de microrganismos, a digestão anaeróbia (DA) é considerada promissora entre as diversas tecnologias existentes para tratamento de resíduos sólidos por apresentar as seguintes vantagens: aproveitamento energético, redução da quantidade final de resíduo e possibilidade de aproveitamento do resíduo sólido tratado como biofertilizante.

O sucesso dessa abordagem é especialmente importante, pois tem potencial não apenas no tratamento dos resíduos, mas também na geração de energia renovável, e consequente redução da dependência de combustíveis fósseis. Portanto, este trabalho tem por objetivo avaliar a eficácia da DA de misturas de gelatina com lodo de curtume, através da análise da variação de carga orgânica e inorgânica, antes e após o tratamento, além da quantificação do biogás produzido e seu teor de metano.

Autor: Rafael de Sousa Marchese.

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