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Destinação Final de Lodos de ETAs e ETEs

Lodos de ETAs e ETEs

Os lodos de ETAs têm sido dispostos em cursos de água sem nenhum tratamento. Todavia essa prática tem sido questionada pelos órgãos ambientais devido aos possíveis riscos à saúde pública e à vida aquática. Estima-se que a produção de lodos de ETA’s nos municípios operados pela Sabesp, no Estado de São Paulo seja de aproximadamente 90 toneladas por dia, em base seca.

Observou-se uma grande variabilidade nos quantitativos de lodos gerados ao longo do período de um ano em cada ETA. Normalmente, ocorreu uma maior produção de lodo no período chuvoso, que vai de novembro a março, época em que há piora na qualidade geral das águas dos mananciais, representada pelos parâmetros cor aparente e turbidez, necessitando, consequentemente, da aplicação de maiores quantidades de produtos químicos para o tratamento, notadamente de coagulantes.

Os usos benéficos mais utilizados ou de maior potencial de utilização para o Estado de São Paulo são: fabricação de cimento, disposição no solo, cultivo de grama comercial, fabricação de tijolos, solo comercial, compostagem e plantações de cítricos. O lodo também poderá ser utilizado para a melhoria da sedimentabilidade em águas de baixa turbidez, recuperação de coagulantes e controle de H2S. Além das utilizações benéficas citadas, muitas vantagens têm sido observadas, quando os lodos de ETAs são lançados em redes coletoras de esgotos ou diretamente nas estações de tratamento de esgotos.

Soluções economicamente viáveis e ambientalmente vantajosas

A busca de soluções economicamente viáveis e ambientalmente vantajosas para o tratamento e disposição final de lodos de ETAs continua sendo um desafio em vários países, principalmente no Brasil, onde o assunto é mais recente. A caracterização adequada do lodo é o passo inicial para poder avançar nesse sentido. As legislações ambientais específicas devem ser analisadas para cada tipo de disposição final desejada.

Também é imprescindível que seja realizada uma pesquisa de mercado, identificando potenciais clientes, aceitação do produto por fabricantes e pelo consumidor final, além da viabilidade da comercialização do produto. Dentre as várias soluções de disposição final para o Estado de São Paulo destacam- se: a fabricação de tijolos, o aterro e a descarga em redes coletoras de esgoto.

Em face da complexidade da RMSP, observa-se que não pode ser identificada uma solução única para o tratamento e disposição final dos lodos de suas ETAs, devendo cada uma das opções ser ponderada para cada ETA individualmente, em função de seus aspectos técnicos, econômicos, ambientais, sociais e políticos.

Devido ao crescimento urbano acelerado, a produção de lodo gerado nas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) também aumenta, principalmente no Estado de São Paulo, onde se encontra a maior parte da população urbana do país. Embora esse resíduo represente em média 1% a 2% do volume total do esgoto tratado, seu gerenciamento é bastante complexo e demanda custos elevados.

O processamento e a disposição final do lodo podem representar até 60% do custo operacional de uma ETE. Geralmente para destinação final do lodo são utilizados os aterros sanitários, no entanto, alguns estudos vislumbram sua aplicação como insumo agrícola, fertilizante ou mesmo na construção civil.

Diante da necessidade de preservação ambiental ao se destinar corretamente os resíduos sólidos resultantes do tratamento de esgoto, surge o desafio de encontrar formas economicamente viáveis e ecologicamente seguras para reutilizar o lodo, reintegrando um produto de descarte ao ciclo produtivo.

A previsão de produção de lodo das cinco estações de tratamento de esgotos da RMSP operadas pela SABESP para o ano de 2015 é da ordem de 750 ton/dia em base seca. Se considerarmos uma concentração de sólidos da ordem de 30 % (apenas desaguamento mecânico sem secagem térmica), a produção de lodo úmido será da ordem de 2.500 ton/dia, assim distribuída :

  • Barueri ………………… 1.010 ton/dia ( Vídeo ETE Barueri )
  • Suzano ……………………….  105
  • ABC ……………………………  352
  • São Miguel ………………….  256
  • Pq. Novo Mundo ………….  772

Das possibilidades estudadas de destinação final desse material verificou-se que apenas a utilização de aterro sanitário exclusivo para recepção dos lodos e a utilização agrícola se apresentavam como alternativa capazes de absorver as quantidades de lodos gerados nas ETEs.

A aplicação dos lodos na agricultura é a forma que pode ser considerada como a mais adequada em termos técnicos, econômicos e ambientais, desde que convenientemente aplicada, e a operação de secagem térmica proporciona ao material as características necessárias para essa conveniência em termos de segurança e praticidade.

A tecnologia de secagem térmica adotada pressupôs a produção de biossólidos secos e granulados, com teores de sólidos superiores a 90%, assegurando-se a eliminação de organismos patogênicos de modo a possibilitar sua classificação como biossólido classe A.

Os metais pesados presentes nos lodos constituem seu principal aspecto poluidor, uma vez que não são removidos pelos tratamentos biológicos, contudo, seu controle pode ser feito mediante a adoção de uma política voltada para o gerenciamento das descargas industriais assegurando-se assim seu enquadramento dentro dos limites seguros para aplicação na agricultura.

Nem todo o lodo produzido poderá ser aplicado na agricultura, aqueles originados na ETEs localizadas em áreas de maior concentração industrial, e portanto com concentrações de metais pesados acima dos limites serão destinados a aterro sanitário exclusivo.

Os custos envolvidos revelaram-se variáveis em função da intensidade do aproveitamento dos biossólidos para uso agrícola, quanto maior seu aproveitamento, menor o custo médio marginal da disposição dos lodos.

Logística Reversa e Logística Verde 

A logística reversa preocupa-se principalmente com o retorno dos resíduos de pós-consumo e pós-venda ao ciclo produtivo, agregando-lhes valor econômico, logístico e ambiental. É muitas vezes confundida com a logística verde, porém enquanto a reversa busca meios de reinserir ao ciclo de negócios os produtos já descartados, a logística verde planeja e diminui impactos ambientais da logística comum.

A logística verde adiciona a todas as atividades logísticas uma preocupação ecológica, como, por exemplo, fabricar garrafas plásticas mais finas utilizando menos matéria prima ou dar preferência ao transporte em lotes cheios. Algumas ações da logística verde podem não reduzir tanto os custos, mas os consumidores estão a cada dia mais dispostos a dar preferência a produtos que indiquem a responsabilidade ecológica do fabricante. De acordo com o “Green Logistics Forum”, realizado na Europa em 2010, as atividades logísticas devem estar equilibradas nos seguintes pilares: econômico/financeiro, social e meio ambiente.

Atualmente, sustentabilidade não pode ser encarada apenas como uma ideia a ser desenvolvida, ela deve traduzir-se em ações imediatas e concretas para que seja possível existir um futuro, no mínimo, razoável. Neste cenário, surge a Política Nacional de Resíduos Sólidos que direciona a responsabilidade da destinação ambientalmente adequada aos geradores dos resíduos e fixando prazo até 2014 para que a situação dos aterros esteja resolvida. Não será mais uma questão de escolha, mas uma determinação legal. Portanto, as estações de tratamento de esgoto precisam adequar-se às novas exigências o quanto antes.

Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS

A Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010, instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que dispõe diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos. Também identifica as responsabilidades dos geradores de resíduos e do poder público. Foi regulamentada pelo Decreto 7.404, de 23 de dezembro de 2010, que também criou o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa. Os principais objetivos dessa lei são:

  • Proteção da saúde pública e da qualidade ambiental estimulando padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços com desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas.
  • Não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
  • Gestão integrada dos resíduos sólidos que busca compartilhar a responsabilidade pelo ciclo de vida dos produtos, envolvendo todos da cadeia de comercialização, como fabricantes, distribuidores, consumidores e órgãos públicos.
  • Incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados.
  • Incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos, incluídos a recuperação e o aproveitamento energético.

Considerando que um dos objetivos principais dessa Lei é o reaproveitamento dos resíduos sólidos, um plano microrregional que integre as ações de municípios limítrofes pode diminuir custos para o reaproveitamento adequado do lodo de esgoto. Principalmente porque o art. 36, alínea V, deixa claro que o titular dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos será responsável por “implantar sistema de compostagem para resíduos sólidos orgânicos e articular com os agentes econômicos e sociais formas de utilização do composto produzido”.

Lodo de Esgoto

A quantidade gerada de lodo de esgoto cresce proporcionalmente ao aumento dos serviços de coleta e tratamento de esgoto, que, por sua vez, deve acompanhar o crescimento populacional. Em 2010, estimativas apontavam uma produção nacional de 150 a 220 mil toneladas de matéria seca por ano, considerando que o tratamento de esgoto atingia apenas 30% da população urbana.

Em média, estima-se que cada ser humano produza cerca de 120g de sólidos secos diários lançados nas redes de esgoto. O esgoto, quando não contém resíduos industriais, é basicamente composto por 99,87% de água, 0,04% de sólidos sedimentáveis, 0,02% de sólidos não sedimentáveis e 0,07% de substâncias dissolvidas.

O tratamento de esgoto por processo biológico resulta em dois tipos de resíduos: o efluente líquido pronto para ser devolvido ao meio ambiente e o lodo (primário e secundário) que é um material pastoso com grande concentração de micro-organismos, sólidos orgânicos e minerais.

O aproveitamento do lodo já é feito em outros países há bastante tempo, sendo o reúso agrícola o método mais empregado, no Brasil as alternativas de reúso ainda são pouco utilizadas e a destinação mais comum é o aterro sanitário.

O artigo 3º da Resolução CONAMA nº 375/2006, que define critérios e procedimentos para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos derivados, determina que os lodos gerados em sistemas de tratamento de esgoto sejam submetidos a processos de redução de patógenos e da atratividade de vetores, para que possam ser utilizados na agricultura.

Tipos de Tratamento 

Os tratamentos necessários envolvem processos de adensamento, desaguamento, estabilização e higienização, dependendo do destino final. O adensamento e o desaguamento visam principalmente à redução do volume de água e a redução do volume do lodo, respectivamente. Estabilizar o lodo tem por finalidade reduzir a quantidade de patógenos, eliminar os maus odores e inibir, reduzir ou eliminar o potencial de putrefação.

A higienização busca garantir um nível de patogenicidade que, ao ser disposto no solo, o lodo não cause riscos à população nem ao meio ambiente e somente após esse processo é que o lodo estará pronto para ser transportado. O tempo para conclusão da higienização depende do tipo de processo adotado pela unidade de gerenciamento e de sua eficiência, variando de zero, na secagem térmica, a 30/60 dias na caleação.

O processo de caleação consiste em misturar cal virgem (CaO) em proporções que variam em função do peso seco do lodo, de modo a promover o aumento do pH numa reação exotérmica que inativa até 90% dos organismos patogênicos e acelera o processo de evaporação, podendo atingir temperaturas de até 80ºC.

Transporte, Movimentação e Armazenagem do Lodo

Como em toda operação logística, os custos com transporte têm grande influência sobre os custos totais da operação. No caso do lodo, os custos com movimentação e transporte estão diretamente ligados ao seu teor de umidade. A redução de 98% para 85% do teor de umidade do lodo reduz o volume de carga a ser transportada a apenas 13% do volume original. A Tabela 1 indica a variação do teor de umidade média, de acordo com o tipo de biossólido produzido (termo usado para o lodo tratado que pode ser usado principalmente na agricultura) e a significativa redução do número de caminhões necessários para o transporte de 6 ton. de lodo m.s. (matéria seca).

O custo de transporte é um importante parâmetro para a viabilidade econômica do uso agrícola do lodo de esgoto. Quanto maior o volume transportado por viagem, menor o custo unitário de transporte.

Antes de ser enviado ao destino final, o lodo tem que ser transportado dentro da própria estação de tratamento de esgoto (ETE). Segundo Von Sperling, para essa movimentação, geralmente, são utilizadas esteiras transportadoras ou caçambas do tipo Brook com capacidade média de 5m³ cada, acopladas a caminhões com dispositivos hidráulicos de carga e descarga.

O carregamento de caminhões pode ser realizado com pás carregadeiras de rodas ou retroescavadeiras e devem possuir carrocerias totalmente vedadas, serem equipados com sistema de trava que impeça a abertura da tampa traseira, possuir lona plástica para cobertura, cone de sinalização, pá ou enxada e luvas de látex.

Além de respeitar a capacidade volumétrica da caçamba transportadora, outros cuidados devem ser tomados no transporte de biossólidos, lembrando que é de total responsabilidade da empresa geradora do resíduo. Deverão ser observadas também as condições das estradas a percorrer, distância, tipos de veículos, limpeza dos pneus ou de qualquer outra parte do veículo ao sair da ETE, não carregar nem transportar em dias chuvosos se a operação não puder ser realizada em ambiente e caminhões cobertos.

Resolução CONAMA 375/2006

O art. 19, da Resolução CONAMA 375/2006 determina que a Unidade de Gerenciamento de Lodo (UGL) é responsável pelo carregamento e transporte do biossólido. Estabelece que para retira-lo da ETE, o motorista do caminhão deve apresentar um Termo de Responsabilidade e Formulário de Controle e Retirada devidamente preenchidos. Os documentos são emitidos pela própria UGL e deverão ser mantidos em arquivo para que possam ser apresentados aos órgãos fiscalizadores sempre que forem solicitados. Essa também é uma exigência do órgão ambiental Companhia Estadual de Tecnologia em Saneamento Básico (CETESB) que serve para rastrear o resíduo, identificando o gerador, o transportador e o destino do lodo.

Lodos úmidos com no máximo 5% de concentração de sólidos são transportados em caminhões tanque, do tipo “limpa-fossa” e os sólidos utilizam caminhões tipo basculante com capacidade entre 10 a 16 metros cúbicos (ou aproximadamente 8 a 12,8 toneladas de lodo por viagem), caçamba bem vedada e travada para evitar fuga do material, coberta por lona.

O uso de caminhões do tipo semirreboque com capacidade de transporte entre 20 a 25m³/viagem possibilitaria uma redução nos custos de transporte por tonelada. O transporte do lodo deve ser bem gerenciado para evitar transtornos durante o percurso, tais como desconforto devido a odores desagradáveis tanto para o motorista, quanto para a comunidade por onde passar.

Enquanto permanecer na unidade gerenciadora, o lodo deverá ser armazenado em local coberto para evitar encharcamento e diminuir o problema de odor. O local deve possuir piso de concreto armado ou asfalto, impermeabilizado de modo a evitar a infiltração do lodo no solo e estruturas de coleta de chorume e de águas pluviais. O manual de estocagem de biossólidos da Agência de Proteção Ambiental Norte Americana (USEPA) considera necessário o investimento em obras adequadas, como galpões com piso de concreto ou asfalto e cobertura.

No Brasil, a Resolução CONAMA 375/2006, seção VIII, preconiza que a estocagem do lodo numa propriedade deve ser feita em local com declividade máxima de até 5%, com distância mínima de segurança de rios, poços, lagos, minas e afins que varia de 15 a 100m e por período máximo de 15 dias. Também proíbe que a estocagem seja feita diretamente sobre o solo. O manuseio e carregamento de caminhões na área de estocagem poderão ser feitos com pás carregadeiras de rodas ou retroescavadeiras com caçambas frontais.

Principais Métodos de Descarte do Lodo

A preocupação com o descarte correto do lodo de esgotos é algo relativamente recente no Brasil. Até poucos anos, a única referência ao lodo nos projetos das ETEs, após o tratamento, era uma seta e as palavras “disposição final”, sem identificar onde seria o descarte e nem como seria feito. Dessa forma, as empresas gerenciadoras de saneamento básico procuravam apenas se livrar do resíduo, sendo as formas mais utilizadas o descarte da torta de lodo em aterros sanitários – landfill, e o descarte do lodo líquido, bombeado através de dutos até alto-mar – descarga oceânica.

Com a crescente preocupação de preservação do meio ambiente a descarga oceânica não é mais utilizada, sendo inclusive proibida nos EUA e na Europa. Os processos que englobam a disposição final de 90% do lodo produzido no mundo são: incineração, disposição em aterros e uso agrícola. A Tabela 2 apresenta dados comparativos de custos da disposição final de lodo:

Reúso do lodo

Diante do progressivo aumento populacional, os problemas ambientais resultantes da geração de resíduos da atividade humana exigem ações que viabilizem o equilíbrio entre consumo e reúso. No caso do lodo de esgoto não é diferente, pois além do grande volume que exigirá cada vez áreas maiores para descarte existe ainda o problema ambiental que a ausência de tratamento adequado pode causar à área onde é depositado.

Outro ponto importante é que o lodo pode deixar de ser apenas um problema sobre como e onde ser descartado para se tornar um produto que pode reduzir o uso de recursos naturais em processos produtivos, beneficiar solos degradados, entre outras aplicações que vão agregar valor a algo que até então gerava custos para ser dispensado.

No Brasil, o descarte ainda é normalmente realizado em aterros sanitários, o que agrava o problema com lixo urbano e vai contra a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que prevê a redução de resíduos sólidos urbanos úmidos dispostos em aterros sanitários.

No item “Agricultura Sustentável” da Agenda 21, programa de ação resultante da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992, a utilização do lodo de esgotos na recuperação de solos empobrecidos é incentivada, mediante a garantia da inexistência de impactos ambientais negativos.

Lodo na Agricultura

A aplicação do lodo na agricultura parece ser a forma mais difundida de utilização do resíduo. No entanto, outras formas de aproveitamento também estão sendo estudadas :

  • Reaproveitamento industrial
  • Fabricação de tijolos e cerâmicas
  • Produção de agregado leve para construção civil
  • Produção de cimento
  • Reaproveitamento agrícola
  • Fertilizante orgânico e compostagem
  • Recuperação de solos degradados

A incorporação do lodo de esgotos na fabricação de produtos cerâmicos, como telhas, tubos, tijolos e lajotas, tem-se mostrado uma alternativa viável de destinação adequada. O lodo é adicionado ao processo durante a etapa de preparação da massa cerâmica e auxilia na correção de umidade. Isso pode ser feito manualmente, com pás carregadeiras, ou em olarias mais tecnificadas, utilizando-se equipamentos apropriados.

Pesquisas demonstram que é possível utilizar o lodo de esgoto como substituto a agregados leves na fabricação de cimentos e concretos, bem como peças feitas desses materiais. Os agregados leves seriam as areias, pequenas pedras, etc.

Adicionar cinzas do lodo ao processo produtor de cimento reduz o custo de produção e, como o cimento é o componente mais caro do concreto, também reduz os custos deste item indispensável na construção civil. É possível substituir 35% do consumo de cimento Portland por lodo calcinado entre temperaturas de 700ºC a 800ºC.

No Brasil, a técnica de adicionar lodo de esgoto na fabricação de cimento Portland ainda não é muito utilizada. Nos EUA, porém, a operação é realizada com frequência por diversas empresas de saneamento. Não apenas nos EUA, mas também em outros países o uso do lodo de esgoto na fabricação de cimento Portland é bem comum. Em Cingapura, cinzas do lodo de esgoto adicionadas à massa asfáltica foram utilizadas com sucesso na construção de estradas.

O reaproveitamento agrícola demonstra ser a melhor opção de reúso do lodo, pois reduz a exploração de recursos naturais para fabricação de fertilizantes e proporciona os melhores resultados econômicos. No entanto, a qualidade do lodo utilizado na agricultura deve ser assegurada, de modo que promova melhorias às qualidades físicas, químicas e biológicas do solo, sem risco de contaminações, observando-se as exigências da Resolução Conama 375/2006.

Os biossólidos apresentam em sua constituição quantidades significativas de nutrientes essenciais ao desenvolvimento das plantas, sendo o nitrogênio e o fósforo os que normalmente se apresentam em maior quantidade. Considerando que o nitrogênio mineral presente no solo é logo absorvido ou perdido para a atmosfera, a matéria orgânica representa uma fonte contínua de nitrogênio, capaz de atender as demandas nutricionais das plantas e alcançar a máxima produção das culturas.

A disposição do lodo em áreas degradadas, por sua composição química, consegue aumentar a capacidade de infiltração e retenção de água e a aeração do solo. Além disso, pesquisas apontam que o gasto com o transporte de lodo será inferior ao gasto com compra de fertilizantes, desde que a distância entre o fornecedor do lodo e a área degradada não seja superior a 150 quilômetros.

Leia também: Lodo na agricultura, seus riscos e benefícios

 

Viabilidade técnica e econômica

Implantar uma Unidade de Gerenciamento de Lodo (UGL) dentro de uma ETE requer a análise da estrutura física e da capacidade operacional, levando em consideração o tipo de destinação final escolhida. As características dos efluentes recebidos influenciarão diretamente nas etapas de tratamento necessárias e, consequentemente, na quantidade e na qualidade de lodo gerado. Sendo assim, é necessário conhecer as características dos efluentes recebidos para definir a melhor forma de destinação final do lodo e prever os custos de cada etapa.

Se a reciclagem agrícola for a destinação final escolhida, será preciso definir onde o lodo será aplicado, saber se existem áreas próximas com culturas onde a legislação permita a aplicação de biossólidos. A distância entre a ETE e a área agrícola onde o lodo será aplicado é fator determinante no custo da operação e o teor de sólidos determinará o tipo de transporte mais adequado.

A viabilidade técnica do gerenciamento do lodo depende da análise de diversos fatores como: áreas disponíveis (para processamento e aplicação), instalações existentes e adequações necessárias, tipo de transporte e manuseio, existência de mão de obra especializada ou treinada e a gestão e controle da UGL.

Realizada a análise de viabilidade técnica torna-se possível a análise de viabilidade econômica. Essa análise definirá critérios de aproveitamento e adaptação dos materiais, instalações e equipamentos já existentes para que os custos com novas aquisições ou construções sejam minimizados. Alguns equipamentos e materiais de manuseio necessários para o gerenciamento do lodo já estão presentes nas Estações de Tratamento de Esgotos convencionais.

De acordo com Von Sperling, os custos devem ser divididos em custos de processamento do lodo, transporte e disposição, considerando para cada um destes itens, os custos de investimento, operacionais e administrativos. Os custos de investimento são basicamente compostos pelos equipamentos a serem utilizados; pelos materiais de manuseio (bombas, esteiras, caminhões, tratores, etc); os custos por m² de terreno do local de instalação da UGL; os gastos com obras civis e os gastos com instalações elétricas.

Portanto, após a análise de viabilidade técnica para definir o tipo de processamento e de destinação final, se faz necessária uma análise logística do projeto.

As necessidades de encontrar alternativas seguras para o descarte do lodo de esgoto vai além das obrigações legais e se torna cada vez mais urgente. Considerando o crescimento urbano acelerado e o consequente aumento do volume de lodo gerado nas Estações de Tratamento de Esgotos, as ações relacionadas à sustentabilidade e à responsabilidade ambiental estão interligadas e definirão hoje a qualidade de vida das gerações futuras.

O desafio de encontrar o equilíbrio entre produção, consumo e descarte deixou de ser um ideal ecológico e passou a ser medida de autopreservação.

Com a homologação de leis, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que buscam a não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento e destinação final ambientalmente segura dos resíduos sólidos e da crescente demanda de área para descarte, as Estações de Tratamento de Esgoto devem reestruturar-se e incluir em suas atividades o processamento do lodo para fins de reuso. Ficou claro que, para isso, as empresas de saneamento também precisam estabelecer critérios para o recebimento de seus efluentes, já que as características do esgoto recebido determinarão as possibilidades de reuso.

Conclui-se que a reutilização do lodo de esgoto após o processamento adequado pode apresentar diversos benefícios ecológicos que justificam os custos do tratamento. Para isso, é necessário que a forma de reúso seja escolhida levando-se em consideração as limitações da Unidade Gerenciadora de Lodos ou das Estações de Tratamento de Esgoto e que as etapas do tratamento sejam executadas com responsabilidade, a fim de garantir a qualidade do produto e a segurança no reuso.

Confirma-se que os itens que mais encarecem a reutilização do lodo, principalmente no que diz respeito à disposição final, são o transporte e o manejo. Através de uma visão sistêmica e planejada é possível identificar os veículos e equipamentos mais adequados em cada etapa do processo, buscando alcançar um sistema logístico organizado e eficaz.

Destinação Correta do lodo de esgoto

Sendo assim, para destinar corretamente o lodo de esgoto, além do conhecimento técnico sobre os tratamentos envolvidos, são necessários também conhecimentos logísticos. O emprego da logística para planejar, manusear, armazenar e transportar os resíduos é essencial para o sucesso do processo.

Os conceitos de logística reversa estão presentes em toda a cadeia de reuso do lodo, bem como os preceitos da logística verde que se preocupa, entre outros aspectos, com a ausência de reaproveitamento e com o crescente aumento da emissão de resíduos ao meio ambiente.

O conhecimento dos processos logísticos para identificar as alternativas existentes em equipamentos, materiais e instalações é fator determinante para garantir a máxima eficiência do processo com o mínimo custo. Da mesma forma, conhecer e aplicar os conceitos relativos à logística reversa e à logística verde é igualmente necessário para que se alcance o equilíbrio entre economia, meio ambiente e sociedade.

Diante do que foi exposto não existe solução única para o destino final dos lodos de ETAs e ETEs. O que se deve buscar são soluções múltiplas que suportem em conjunto e com longevidade a destinação final e os usos benéficos de lodos. Trata-se de mudança de postura e de posicionamento técnico e até jurídico-legal.

Ainda que os aterros se configurem numa alternativa de disposição final ambientalmente segura, é ilusão acreditar que eles sejam a solução única e definitiva para o problema.

As soluções diversificadas e múltiplas nos levarão a condições de independência tecnológica e principalmente de versatilidade e flexibilidade operacional.

O encaminhamento da questão ambiental só irá atingir patamares mais elevados a partir da articulação entre os vários setores de desenvolvimento urbano, e a destinação dos resíduos gerados pela atividade humana é um fator chave para o planejamento ambiental e a gestão das cidades.

É fundamental essa integração para a promoção gradativa de qualidade de vida, melhorias ambientais e de saúde, colaborando também para a responsável prestação de serviços públicos.

Gheorge Iwaki
Responsável Técnico
Portal Tratamento de Água

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