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Avaliação da perspectiva do uso de efluentes sanitários para fins de abastecimento

Resumo

A reutilização dos recursos hídricos já é uma realidade em várias empresas e indústrias brasileiras, entretanto, a reutilização da água para fins de abastecimento público ainda não possui a notoriedade e importância que deveria. Visto que os esgotos domésticos são compostos por, aproximadamente, 99,9% de água, a perspectiva do reuso de efluente tratado para consumo humano é uma alternativa com grande potencial. Foi realizada uma comparação dos resultados de análises químicas de amostras coletadas em pontos de captação para abastecimento público e de amostras de águas residuais de Estações de Tratamento de Esgoto, tratadas a nível secundário, no município de Belo Horizonte. Verificou-se que, para o reuso dessas águas é necessário submetê-las a um tratamento terciário, e então viabilizar a sua utilização em processos das estações de Tratamento de Água, visando o consumo humano.

Introdução

Desde seus primórdios, a gestão da água pela humanidade é tratada com descaso devido à falsa idéia deste recurso ser de natureza inesgotável. Na região sudeste do Brasil, a abundância de água sempre proporcionou conforto e despreocupação quanto à possível escassez desse recurso.

Entretanto, essa sensação de abundância não condiz com os dados reais de disponibilidade dos recursos hídricos visto que, apenas 2,5% de toda a água do planeta é classificada como água doce e 97,5% como água salgada. Em relação à água doce, ela está distribuída da seguinte maneira: 68,9% em geleiras e neves eternas; 29,9% de águas subterrâneas, 0,9% nos solos, pântanos e geadas; e apenas 0,3% das águas doces estão disponíveis em rios e lagos (BRITO et al,2007).

Segundo a Folha de São Paulo (2014), a escassez de água, que foi destaque do cenário brasileiro em 2014, atingiu, pelo menos, 133 cidades e 27,6 milhões de habitantes do país. Os Estados mais atingidos pela falta de água foram os do sudeste do país. Além dos sérios prejuízos à economia nacional, tendo em vista que, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais correspondem a 52,8% do PIB brasileiro (IBGE, 2014), a população se depara com sérios problemas, visto que a água é um elemento essencial à vida.

Em 2015, a crise hídrica continuou a preocupar a população do sudeste brasileiro e, os principais reservatórios de água que abastecem a população das cidades ainda se encontram em níveis abaixo da média histórica. As cidades se deparam com um cenário de possíveis racionamentos e rodízios de água (SANEAR, 2015).

Neste cenário de escassez hídrica, muito se tem discutido sobre a reutilização da água para os mais diversos usos. A reutilização da água já é uma realidade para várias empresas e indústrias brasileiras e, essa prática diminui significativamente o fornecimento de água pelas concessionárias responsáveis pelo abastecimento.

Na atualidade, uma das principais medidas de gestão ambiental da indústria brasileira é a utilização de técnicas de tratamento de efluentes e recirculação da água tratada (PINTO, 2003). Segundo Uehara (2008), no caso da indústria mineradora, em especial a de minério de ferro, a recirculação da água tratada atinge índices de 80%.

De acordo com Santos (2003), os esgotos domésticos possuem aproximadamente 99,9% de água, sendo que a fração restante é composta por sólidos orgânicos e inorgânicos, em suspensão e dissolvidos, assim como microrganismos.

A reutilização desta água para fins de consumo, entretanto, ainda não possui a notoriedade e importância que deveria. As tecnologias existentes no mercado possibilitam um tratamento mais avançado das águas residuais, provenientes dos esgotos domésticos, com a possibilidade de viabilização o uso destas para abastecimento.

Ao redor do mundo, existem experiências bem-sucedidas do processo de potabilização da água a partir do tratamento de efluentes sanitários. Na Namíbia, o processo de potabilização da água a partir de efluentes é o maior processo de tratamento de efluentes sanitários domésticos do mundo (REVISTA ECOLÓGICO, 2014).

Segundo Macedo (2007), vários países já possuem um sistema de reaproveitamento de água, também para fins não potáveis, como por exemplo, Israel, onde 70% do esgoto é reciclado para irrigação.

Na cidade de São Petersburgo, na Flórida, a água residual recuperada é distribuída e utilizada para irrigação de parques públicos, campos de golfe, áreas verdes, etc. No Japão, em 1992, 938 estações de tratamento de águas residuais já existiam e parte dessas águas são submetidas ao tratamento avançado e distribuídas para áreas urbanas, indústrias dentre outros fins (LEITE, 2003).

O tipo de tratamento adotado é estabelecido a partir da finalidade específica do reuso e das características da água a ser tratada (HESPANHOL, 2002). A Figura 1 apresenta os tipos potenciais de reuso para esgotos tratados. (…)

Autores: Thuanye Peixoto Silva Souza; Marcelo Libânio e Patrícia Rocha Maciel Fernandes.

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