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Tratamento de esgoto por meio de zona de raízes em comunidade rural

Resumo

A falta de tratamento de esgoto é um dos maiores problemas ambientais da população brasileira, principalmente nas comunidades rurais de baixa renda. Nesse sentido, a busca por tecnologias alternativas e de baixo custo para o tratamento desses efluentes torna-se imprescindível. Uma tecnologia alternativa aos métodos convencionais e que tem se mostrado bastante eficaz é o tratamento de esgoto por zona de raízes. Esse sistema baseia-se em princípios físicos (filtração) e biológicos, em que parte do filtro é constituída de plantas, sendo colocado à jusante de um tratamento primário (fossa séptica). Essas plantas devem ter raízes com aerênquimas bem desenvolvidos, como o copo-de-leite, que foi utilizada na ETE (Estação de Tratamento de Efluentes) proposta nesse trabalho. O mesmo teve como objetivo implantar uma estação por zona de raízes numa comunidade rural do município de Irati/PR. A ETE aqui proposta tem volume de 6 m3, foi impermeabilizada com lona plástica e é composta por um filtro físico contendo brita e areia de granulometria pré-definida. Verificou-se que a maior parte dos custos dessa ETE (totalizado em R$ 844,50) deveu-se às canalizações, uma vez que ela atendeu a duas residências. Esse valor, entretanto, situa-se na faixa de valores especificada em literatura (entre 500 e 1200 reais) e pode ficar ainda mais barato caso se preveja uma otimização no arranjo dos canos. Atualmente, a ETE está servindo ainda para trabalhos de educação ambiental nas escolas da região, além de conscientizar a comunidade local acerca da importância do tratamento de seu esgoto.

Introdução

A falta de tratamento dos esgotos sanitários é considerado um dos maiores problemas ambientais da população brasileira. Segundo o IBGE (2007), no Brasil, 47,2% da população não possui rede coletora de esgoto nem ao menos fossa séptica. Isso significa que quase 100 milhões de habitantes não dispõem desses serviços; o problema é ainda mais grave nas comunidades rurais e de baixa renda. O Estado do Paraná não está muito diferente da situação atual brasileira. Segundo o IPARDES (2007), 83,6% dos domicílios são atendidos pelos serviços de abastecimento de água potável, mas apenas 37,6% são atendidos por rede coletora de esgoto e o percentual é ainda mais reduzido quando se trata de tratamento adequado do esgoto coletado.

A qualidade e o acesso aos serviços de saneamento estão diretamente relacionados à saúde publica. Água encanada e tratada é considerada um grande benefício para as comunidades, mas se esse serviço não vier acompanhado de um sistema de tratamento de esgoto adequado poderá, em certos casos, não acabar com os problemas de saúde relacionados à veiculação hídrica, tal como verminoses, hepatite e diarréia. A Fundação Nacional de Saúde destaca que, a cada R$ 1,00 investido no setor de saneamento, cerca de R$ 4,00 é economizado com a saúde (FUNASA, 1994).

Devido à situação sócio-econômica brasileira, são inevitáveis os investimentos no desenvolvimento de tecnologias alternativas, de baixo custo e de alta eficiência para o tratamento das águas residuárias. O tratamento de esgoto utilizando plantas está se revelando uma alternativa eficiente e de baixo custo quando comparadas aos sistemas convencionais. Segundo Brix (1994), esses sistemas podem ser implementados no mesmo local onde o efluente é produzido, podem ser operados por mão de obra não especializada, possuem baixo custo energético e são menos susceptíveis às variações nas taxas de aplicação de esgoto.

De acordo com o CETEC (1985), uma solução apropriada para localidades do meio rural é o sistema de Tratamento de Esgoto Sanitário por Zona de Raízes. Esse sistema tem base em solos filtrantes e é uma tecnologia auto-sustentável, pode ser utilizado de forma a atender pequenas comunidades, escolas e residências unifamiliares, ocupa pequeno espaço na área externa da residência e ainda pode ser integrado de forma não agressiva ao ambiente. Outra vantagem desse sistema é que o tratamento do esgoto passa por duas etapas: o tratamento primário (fossa séptica) e o secundário (ETE por meio de zona de raízes), podendo o efluente resultante do tratamento ser devolvido, apresentando uma redução significativa de matéria orgânica e sólidos sedimentáveis, evitando, assim, a contaminação do corpo d’água ao qual o efluente será lançado. Outro aspecto positivo do sistema é ausência da produção de lodo, o que muitas vezes provoca mau cheiro (secagem lenta) com alto custo (secagem mecânica); na zona de raízes, o mau cheiro é evitado porque as próprias raízes funcionam como um filtro, eliminando-o (VAN KAICK, 2002).

Este trabalho descreve a primeira etapa da implantação de solução tecnológica apropriada para o tratamento de esgoto em duas residências rurais no distrito de Gonçalves Júnior, município de Irati (PR), por meio do sistema de zona de raízes. A conversão das propriedades de agricultores familiares para a produção agroecológica e de produtos orgânicos exige que os aspectos de saneamento ambiental sejam atendidos nestas propriedades. Dessa forma, a introdução de tecnologias apropriadas para o tratamento de esgoto nestas propriedades permite que elas possam se adequar às exigências para a certificação de propriedades de produção orgânica. Além disso, a implantação visa reduzir (ou mesmo eliminar) problemas decorrentes de odor e descarte inapropriado de resíduos, problemas contestados, já há algum tempo, pela comunidade. Esse fator, inclusive, foi determinante para o apoio de todas as pessoas envolvidas no projeto.

Autores: João Luiz Villas Boas Lemesa; Waldir Nagel Schirmerb; Marcos Vinicius Winckler Caldeirac; Tamara Van Kaickd; Osnei Abele e  Rozenilda Romaniw Bárbaraf.

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