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Pesquisas no Brasil e no mundo coletam amostras de esgoto para tentar entender a situação epidêmica do novo coronavírus em comunidades

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A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) está testando o esgoto como um indicador do número de casos de coronavírus sintomáticos e assintomáticos em comunidades. Segundo o cientista Jay Garland, o projeto ajudará a direcionar testes e decisões para a saúde pública

 

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Fonte: Feepik

 

A EPA está trabalhando em vários projetos de pesquisa sobre coronavírus e planeja emitir relatórios sobre:

  • Como aplicar desinfetantes de longa duração;
  • Como desinfetar equipamentos de proteção individual, como máscaras por exemplo, para uma reutilização segura;
  • Se os métodos de tratamento de esgoto são eficazes contra o coronavírus.

Os relatórios finais e seus dados associados serão compartilhados com o público, de acordo com a agência. A EPA ainda não determinou quando as informações serão publicadas.

No Japão, um grupo de pesquisadores das universidade de Toyama e Kanazawa detectaram o novo coronavírus no esgoto ainda não tratado. Segundo o Prof. Akihiko Hata, seu grupo quer avançar rapidamente nas pesquisas para então poderem detectar precocemente a chegada de uma segunda onda de disseminação do vírus. Para Honda, outro da equipe:

“Como o vírus pode ser detectado nas fezes das pessoas assintomáticas e sintomáticas, é possível entender que a situação epidêmica será de uma semana antes dos resultados dos exames médicos e poderão tomar medidas precocemente”.

Pesquisas no Brasil

A maior produtora de testes nacionais do novo coronavírus, a Fundação Oswaldo Cruz, divulgou o resultado de uma pesquisa que aponta a presença do material genético da Covid-19 na rede de esgoto. O estudo tem parceria com a prefeitura de Niterói, onde a rede coletora de esgoto atende a 95% da população. O objetivo inicial foi monitorar a disseminação do vírus em 12 pontos da cidade, podendo ser uma forma de melhorar o entendimento da circulação do vírus em determinadas áreas. A partir disso, as autoridades poderão otimizar os recursos disponíveis e fortalecer medidas de prevenção de forma localizada.

Uma iniciativa semelhante é desenvolvida por pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), situado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O grupo de pesquisa confirmou a presença do novo coronavírus em 100% das amostras de esgoto coletado na bacia da Onça, a qual atende Belo Horizonte e Contagem. A pesquisa apontou que mais de 20 mil pessoas que usam este mesmo sistema de esgoto, estiveram infectadas. Os índices apontaram que entre 3% e 7% dos moradores que vivem em três regiões monitoradas da bacia da Onça estariam infectadas.


LEIA TAMBÉM: MONITORAMENTO DA COVID-19 EM ESGOTOS CONSTATA PRESENÇA DO CORONAVÍRUS EM PRIMEIRAS COLETAS.


Ainda é desconhecida a possibilidade de transmissão feco-oral do vírus, mas o que se sabe é que uma enorme carga viral está sendo despejada nos rios, e isso está diretamente relacionado à situação sanitária do Brasil.

As principais medidas de prevenção recomendadas para conter a pandemia do novo coronavírus – lavar as mãos e o rosto com frequência, fazer uso de álcool em gel e praticar o distanciamento social – não estão ao alcance de muitos moradores de comunidades e periferias das cidades brasileiras, principalmente no quesito higienização.

Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS-2018), apenas 46% dos esgotos de todo o país recebem o tratamento adequado, e 83,62% dos brasileiros são atendidos com abastecimento de água tratada. Pode parecer muito, mas essa porcentagem deixa de lado quase 35 milhões de pessoas sem poder contar com um serviço básico necessário para a prevenção ao COVID-19.

 

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Fonte: Flickr

 

A carência de serviços de água potável, coleta e de tratamento de esgoto, cria um ambiente propício ao desenvolvimento de doenças graves, como diarreia, hepatite A, verminose e outros, ampliando a vulnerabilidade das pessoas que não têm acesso ao saneamento básico para o novo coronavírus.

Comportamento dos vírus em plantas de tratamento

O esgoto doméstico é uma das principais fontes de organismos patogênicos, aqueles que podem causar doenças. Isso porque os esgotos possuem diferentes tipos de microrganismos, como bactérias, vermes, protozoários e vírus. É interessante salientar que nem todas as formas de tratamento conseguem eliminar todos os tipos de patógenos dos efluentes, e nem todos podem ser implementados em todas as plantas devido a estruturas e custos muito elevados.

A maioria das estações de tratamento de esgoto (ETE) no Brasil tem até o tratamento secundário e seu principal objetivo é remover matéria orgânica, sólidos e nutrientes, portanto não necessariamente ocorre a remoção dos patogênicos nesses sistemas. Por esse motivo é necessário a implementação de um pós tratamento nas plantas. Em ETEs o processo de deterioração de material orgânico presente nos efluentes se realiza pela ação oxidante de bactérias aeróbicas, aquelas que se desenvolvem na presença de oxigênio (O2). No tratamento de esgoto aeróbio são estimuladas essas reações adicionando mais O2 no efluente, fazendo então com que essas bactérias se multipliquem e degradem ainda mais a matéria orgânica.

Em tratamentos terciários de ETAs e ETEs, o oxigênio pode ter um comportamento diferente em um pós tratamento quando está em forma de ozônio (O3). Basicamente, o que diferencia o ozônio dos diversos agentes desinfetantes, é o seu mecanismo de destruição dos microrganismos. O cloro por exemplo, atua por difusão através da parede celular, para então agir sobre os elementos vitais no interior da célula, como enzimas, proteínas, DNA e RNA. O ozônio, por ser mais oxidante, age diretamente na parede celular, causando sua ruptura, demandando menor tempo de contato e tornando impossível sua reativação.

Dependendo do tipo de microrganismo, o ozônio pode ser até 3.125 vezes mais rápido que o cloro na inativação celular.

 

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O3 agindo no microrganismo

 

ozônio é gerado quando uma corrente alternada de alta voltagem é descarregada na presença de oxigênio. Desta forma, a geração de ozônio ocorre pelo princípio de descarga elétrica que acelera elétrons o suficiente para partir, através do impacto, as ligações da molécula de oxigênio. Os átomos livres reagem com outras moléculas de oxigênio para a formação do ozônio.

Estudos futuros

Estudos tem detectado o RNA do novo coronavírus em amostras, porém muitas dúvidas tem surgido, como seu comportamento no corpo aquoso e como será seu comportamento após passar por uma planta de tratamento. A presença do RNA viral no esgoto não significa que o vírus esteja ainda infeccioso, mas testes já estão sendo feitos nas amostras para ter essa resposta. Um vírus inativo significa que o microrganismo sofreu alterações nas suas estruturas por algum fator externo (como a variação da temperatura por exemplo), dessa forma ele não pode causar a doença, mas pode ainda assim ser identificado. O mesmo estudo também visa comparar amostras antes de depois de ETEs com tratamento convencional, que ajudará a entender o comportamento do vírus em tratamentos secundários.

Vale lembrar, que o foco principal na prevenção da disseminação da COVID-19 continua sendo o de lavar as mãos com água e sabão. Isso porque o sabão propicia a destruição do envelope lipídico do novo coronavírus, consequentemente inativando-o.

Renata Mafra – Produtora de conteúdo

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